Gata de Rodas - São Paulo Cycle Chic

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Meu luto é da cor do asfalto manchado

Tem gente que diz que roupas não têm importância. Mas como muitos outros comportamentos humanos, roupas são mais um jeito de demonstrar sentimentos - o que nos humaniza.

Na comunidade judaica, quando há um luto, os espelhos são cobertos e os membros da família que estão enlutados rasgam um pedacinho visível da roupa, para demonstrar que naquele momento a vaidade foi encoberta pela dor.

As cores do luto mudam de acordo com a crença, mas não se fica indiferente. O corpo diz: algo mudou.

Perdemos hoje um de nossa comunidade: o empresário Antonio Betolucci foi atropelado na avenida Sumaré. Aquele asfalto, hoje coberto de sangue, invisivelmente nos unia; eu passo ali quase todo dia a caminho do trabalho e de felizes encontros com amigos. Hoje o negro e vermelho do asfalto são a cor da minha tristeza, da raiva e da indignação.

A cada dia ocorrem muitas mortes estúpidas e desnecessárias no trânsito de São Paulo. Todos que saem de casa com frequência, seja a pé, carro ou bike, são sobreviventes. A grande diferença é que uma parcela crescente quer deixar de ser parte do problema e se tornar solução, adotando uma postura mais tranquila, amistosa e repleta de respeito por todos os viventes que nos cruzam o caminho.

Lentamente mudam as políticas públicas para uma cidade melhor e que o direito universal de chegar em casa vivo ultrapasse o privilégio de alguns de trafegar em alta velocidade ou sem respeitar o mais frágil do espaço público compartilhado.

Hoje, estaremos reunidos no local do incidente, às 19h, para lamentar a perda e questionar a falta de respeito à vida que essa cidade impõe a seus cidadãos. Leve flores, velas, cartazes. Só não fique em silêncio. O silêncio é conivência e omissão com mortes, anônimas ou não, e que podem ser evitadas.

2 comentários:

  1. bonito texto, vamos nos unir.
    beijos

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  2. O Brasil é um país atrasado em vários aspectos e um deles é a educação no trânsito. Não consigo imaginar o brasileiro condutor mediano respeitando leis e vidas. O asfalto de nosso país é pura violência. Que inveja dos europeus. Será que um dia o Brasil chega ao nível deles?
    Que tristeza.

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